Alias, essa palavra "underground" é a base do motociclismo (moto-clubista). Tenho a mais absoluta certeza que muita gente que hoje pertence a um motoclube sequer sabe o significado dessa palavra, ou se ao menos a pratica.
Nesse sentido, venho percebendo no decorrer dos anos que: nós moto-clubistas crescemos em número, mas apodrecemos como peixe do mercado no fim da feira. Isso e muito preocupante, pois por detrás desse "crescimento" (inchado por apodrecimento), surgiu um monte de outros "frutos do mar" que ajudaram a apodrecer nosso peixe na banca.
Hoje em dia, se monta futilmente um motoclube por vários outros motivos, sejam eles por interesses empresariais, por interesses politico-partidários-eleitorais, "religiosos", e até por vaidade de botique... Sim, isso mesmo, vaidade de botique. - Afinal o colete com um brasão agora é moda, fica bonito quando vestido por um mauricinho ou uma patricinha recém chegado no rock depois de ter curtido muito bate-estaca.
Quero destacar com HONRA os autênticos e históricos Moto-Clubes, estes que de fato sabem manter a nossa tradição e preservar de fato nossos propósitos como motociclistas que sempre souberam de cor e salteado os verdadeiros motivos pelo qual vestem um colete e ostentam um brasão.
Mas...
...a indignação nos vem á cabeça quando percebemos o surgimento de motoclubes que sequer são formados por motociclistas... gente que nunca pegou num guidão de uma motocicleta para saber como se equilibra nela, muito menos o sentido underground de viver, e quanto muito são os "manés-garupa" e "marias-moto-clube", que, não tendo coisa mais sadia pra fazer, vivem a parasitar em nosso mundo e a trazer para dentro dele práticas que sempre abominamos no decorrer de nossa história.
Outro fator que nos deixam indignados com esse inchaço de supostos "MCs escudados", é o enorme uso comercialesco e politiqueiro que se faz de nossa imagem... É "mega-isso", "mega aquilo", pra todo lado... São pelo menos uns 10 eventos semanais de todos os portes só no Estado de São Paulo, onde na verdade apenas um ou outro de fato representa os nossos verdadeiros ideais. A ampla maioria não passa de mercados de peixe, uma economia paralela que mama nas tetas da idéia moto-clubista.
Os eventos em si já se transformaram em "industrias de fins de semana" no altar do consumismo e que na verdade já está se transformando na perigosa autofagia tamanha é a quantidade deles e muitos com o único propósito de gerar um lucro para alguém.
Alguém pode nos perguntar se isso é bom...
Se formos observar pelo ponto de vista do mundo neo-liberal, do sistema que a gente sempre quis estar fora, eu digo que "Sim", afinal, de alguma maneira há quem consiga ganhar até muito dinheiro de nosso bolso sistematicamente utilizando-se de um suposto sonho de massa, mas, se formos observar pelos nossos reais princípios vamos notar que nosso mundo moto-clubista virou um verdadeiro "Mercado de Peixe" não diferente dos shoppings-templos da fé. ... Sim, tal qual a comercialesca religiosidade televisiva que vende milagres por dízimos... um comércio de fé, imagem e bandeiras.
Não é raro sabermos de mais e mais inaugurações de points de motociclistas (pontos comerciais) que se formam com nossa imagem moto-clubista para atrair mais e mais gente que agora se traveste de motociclista de colete escudado num moto-clube de fachada.
A gente nem mais sabe a quem de fato reconhecer no meio dessa massa tão heterogênea de princípios, culturas e interesses. É tanta gente de colete querendo comprar e vender peixe que uma hora dessa podemos comprar um robalo por pintado.... Alias, isso é a coisa mais comum que anda acontecendo... Não é raro a gente ser explorados e enganados em supostas ofertas de "encontros de ocasião" vendidos na banca do saldão ou do lançamento da Mega-Moda-Moto-Mania (4 Ms) por gente que nada tem a ver com nossos princípios undergrounds, que acabam curtindo nosso rock por mera falta de opção (ou oportunismo) e não por entender a proposta da mensagem nele contido. Gente que no embalo te abraça e te beija no evento por mero "ritual", mas que de fato não te reconhece fora daquele espaço, sem o colete ou em alguma situação adversa... incontestável conseqüência evidente do inchaço do mercado de peixe.
Não queremos dizer aqui que devemos nos fechar em guetos, pois isso seria o seu oposto pior, mas insisto nos meus textos em preservar um mínimo de princípios e não deixar nossa bandeira se transformar em vitrine de butiques ou em lastro no banco dos empresários do sistema, afinal o rock que tanto apreciamos fala exatamente dessas coisas nefastas que não queremos que nos aconteça, e acima de tudo é por esse motivo que somos motociclistas, somos alternativos dessa sociedade, somos undergrounds, curtimos e entendemos o rock que ouvimos e somos fieis aos nossos princípios.
Quanto ás "Marias-Moto-Clube" e aos "Manés-garupa", que fiquemos atentos com eles, principalmente na "distribuição" farta de coletes e escudos que anda acontecendo em certos MCs, pois é no bem que o mal cria raiz, e depois que a infecção fica generalizada, o corpo tende á morte.
Por
Chico Lobo
REVISTA MC-SP .