Entenda como funciona o sistema responsável pelo deslocamento da moto e a melhor maneira de deixá-lo em dia
Até que o princípio de funcionamento é simples: o motor funciona de um lado, mas precisa passar toda a energia que é gerada para outro ponto da motocicleta, ou seja, a roda traseira. E a melhor maneira de isso acontecer é fazendo uma ligação entre as duas partes. Para isso, é usada a corrente de transmissão, a responsável por esse trabalho.
Porém, há outros dois modos de passar à roda traseira toda a força provocada pelo motor da moto, a correia, e a árvore de transmissão, também conhecida como eixo cardã. Este, no entanto, é pouco usado já que pode levantar a parte traseira da motocicleta.
Nas primeiras motos, a alternativa usada era o acionamento por correias, e no começo uma tira de couro fazia a ligação do motor com as rodas traseiras, embora nos dias úmidos fosse uma dureza distribuir a tração para a moto, já que o sistema patinava e não havia qualquer tipo de encaixe por dentes entre a correia e a roda.
Hoje em dia, as motos que usam correias, geralmente modelos de grande cilindradas, usam como material a borracha, pois estas, sim, têm os devidos encaixes para gerar tração. O lado bom é que esse componente não precisa de tantos cuidados, como as correntes de aço, foco da reportagem especial desta semana no MotoVrum.
Como é o sistema?
Quando o câmbio faz o pinhão girar, dentro do motor, este transmite toda a potência despejada por ele na corrente, que, ligada à coroa da roda traseira, faz a moto rodar.
Com o tempo, essa relação, como alguns motociclistas gostam de chamar, vai se desgastando. Entretanto, a durabilidade dos componentes de transmissão pode ir muito mais longe se limparmos e lubrificarmos corretamente o elo disso tudo, a corrente. “Ela é formada por cinco componentes distintos, fabricados em aço especialmente desenvolvidos e tratados para a finalidade”, explica o gerente de pesquisa e desenvolvimento da Riffel, fabricante de conjunto de transmissão para motos, Marco Antonio dos Santos.
São eles:
Placas: é o componente que mantém pinos e buchas em suas posições e suporta a carga do conjunto. De modo que requer alta resistência à tração, à fadiga e ao choque;
Pinos: são importantes membros para a formação da corrente, pois eles atuam juntamente com as buchas, suportando a carga de tração e, por esta razão, requerem alta resistência à fadiga, cisalhamento e flexão;
Bucha: envolve o pino, protegendo-o contra impactos do engrenamento. Por este motivo, requer alta resistência à fadiga;
Rolo: serve para amortecer os impactos resultantes do engrenamento. Por isso, importantes fatores são requeridos como alta resistência ao impacto, fadiga e desgaste.
Sem sombra de dúvida são materiais resistentes aos mais variados tipos de força e atrito, mas como a maioria dos fortões que conhecemos por aí, a corrente não dispensa um bom cuidado para que possa realizar o serviço que lhe foi confiado com maior desempenho, e isso começa na mão. “Quem manda é a mão do piloto”, aponta o instrutor de pilotagem da STR Motos, Anderson de Moraes. “Se o cara arranca com tudo, ele certamente estará abreviando o tempo de vida útil da corrente”, adverte Moraes.
No entanto, o maior vilão, segundo o engenheiro do departamento de relações institucionais da Honda, Alfredo Guedes, continua sendo a falta de manutenção ou a manutenção mal feita, e explica onde está o maior erro na hora de fazer a limpeza da corrente. “Para esse componente que possui anéis de vedação (retentores), é importante não utilizar equipamentos de limpeza a vapor ou de alta pressão com água quente, solventes de limpeza, escovas e lubrificantes em spray que contêm solventes”, o engenheiro explica também que “a inspeção visual deve ser feita sempre antes de se conduzir a motocicleta e a cada 1.000 km é importante verificar o ajuste da folga, e fazer a lubrificação da corrente”, comenta.
Corrente folgada
Esse tal ajuste de folga talvez seja um dos pontos mais perigosos que o motociclista precise dar muita atenção. “O ajuste de folga da corrente deve estar entre 15 e 20 mm”, analisa o instrutor da STR.
Para o vendedor da loja de motopeças Corcopin, Francisco Carlos Silva Ferreira, mais conhecido como Chico, o melhor momento de verificar a corrente é na garagem. “Sempre que guardar a moto, após uma viagem ou uso diário, é importante olhar a situação do componente. A quilometragem só deve ser levada em conta em caso de uma viagem longa, e é importante fazer a manutenção nas paradas”, aconselha.
De acordo com Moraes, muitos motociclistas preferem fazer o ajuste da corrente do modo mais simples, e proporcionalmente perigoso. “Já vi motociclistas tirarem dois gomos da corrente e recolocá-la”, diz. “Na melhor das hipóteses, se a corrente quebrar ela vai para o chão, mas na maioria das vezes ela enrosca na roda traseira e trava todo o sistema. E nesses casos é acidente na certa, além disso, a corrente pode ficar chicoteando e causar graves ferimentos nas pernas do piloto, portanto, certamente essa prática não é uma boa ideia”, argumenta.
Embora seja possível tomar uma decisão rápida que possa evitar acidente, caso a corrente estourar no meio de um percurso é importante manter a calma. “Em primeiro lugar acionar a embreagem, iniciar a frenagem e estacionar a moto em local seguro. Então, desligar o motor, evitando dessa forma, riscos de queda ao condutor e de danos a quaisquer partes da motocicleta”, aconselha o gerente da Riffel.
“A inspeção da tensão da folga da corrente deve ser feita com a maior frequência possível, fabricantes e mecânicos falam em algo em torno de cada 250 a 350 km dependendo do tipo da motocicleta”, ilustra o especialista em limpeza de motos e motociclista, Tomas André Santos.
Durabilidade
De acordo com Moraes, as correntes podem durar até 15 mil quilômetros, se devidamente cuidadas. Porém, Santos acredita que esse seja um período que não é possível precisar. “Isso irá variar com o uso e os cuidados de manutenção de cada usuário. Portanto, deve-se inspecionar a corrente periodicamente para checar componentes gastos ou danificados, especialmente a emenda. Alguns sinais indicam que está na hora da troca da relação como pinos rotacionados, juntas enrijecidas, barulho excessivo da transmissão e vibração e saltos da corrente”.
Para a manutenção perfeita é importante manter a corrente sempre lubrificada, só que antes disso é preciso tirar toda e qualquer sujeira que possa ter ficado entre os materiais que compõem a corrente e todo o sistema de relação da motoca. “Alguns motociclistas e mecânicos acreditam que a corrente não deve ser lavada. Na realidade, deve sim, pois é preciso retirar todo o excesso da lubrificação anterior”, aponta Santos.
“Os produtos utilizados para lubrificar a corrente favorecem o acúmulo de areia, pó e sedimentos que irão funcionar como ‘abrasivos’ e que provocarão o desgaste por ‘usinagem’ do conjunto. Portanto, somente a lavagem pode contornar isso. A polêmica é gerada principalmente por conta dos produtos utilizados para a lavagem da corrente”, diz Santos.
Ele aconselha a nunca utilizar desengraxantes pesados. “Eles prejudicam diretamente o metal da corrente.
Também é bom não usar gasolina pura que resseca os anéis de borracha das correntes mais modernas. Quem é partidário do pensamento contrário à lavagem, acredita que produtos como o querosene ou óleo diesel também ressecam esses anéis, e em tese retiram toda a lubrificação, deixando a corrente ressecada. Porém, esse problema pode ser contornado acrescentando-se sabão líquido ao querosene ou óleo diesel”, conta Santos.
Além disso, ele diz que a frequência de lavagem da corrente está relacionada ao tipo de lubrificação e ao local de uso da motocicleta. “Quanto mais grudento for o produto utilizado para a lubrificação e quanto mais a moto rodar em terra, maior deve ser a frequência de lavagem”, finaliza o motociclista.
Já para o gerente da Riffel, a lavagem só deve ser feita em caso extremo. “Recomenda-se a limpeza da corrente quando esta estiver excessivamente suja” aponta. “A corrente deverá ser retirada da motocicleta e limpa antes da lubrificação. A limpeza deverá ser realizada com solvente não inflamável e seca em seguida. Após o uso da motocicleta, especialmente off-road, se o acúmulo de barro for muito grande, pode-se lavar a corrente com jato de água e secá-la imediatamente com jato de ar, e, em seguida, lubrificar a corrente”, argumenta.
Lubrificando a corrente
Parte principal da manutenção das correntes, a lubrificação deve ser feita sempre que for necessária, dependendo do uso da moto. Para o instrutor de pilotagem o ideal é semanalmente. “Creio que duas vezes por semana está bom, tudo de acordo com a utilização da moto. Mas se chover, deve-se lavar e lubrificar sempre”.
Santos alerta ainda para o perigo da lubrificação inadequada da corrente. “Quando se faz uso da motocicleta sem a lubrificação adequada, temos um aumento significativo no atrito direto entre as partes, ocasionando perda de potência e um aumento excessivo da temperatura de operação, o que ocasionará, somada ao desgaste proveniente do atrito, uma vida útil ainda mais curta ao conjunto coroa, pinhão e corrente”.
Agora vamos à pergunta: que tipo de lubrificante deve ser usado? “Para as motocicletas Honda, o lubrificante adequado para a corrente de transmissão final é o óleo SAE 80 ou 90”, esclarece Guedes. “Ou óleo 90 ou óleo novo de carro, que possui uma boa viscosidade”, sugere Moraes.
Para o gerente da Riffel, a graxa branca também pode ser uma solução. “Apresenta características em sua composição que garantem uma ótima lubrificação quando em movimento com propriedades repelentes à água e a outros agentes externos, como poeira, por exemplo. Sua viscosidade garante uma boa adesão à relação, aumentando sua vida útil, evitando respingos, garantindo lubrificação por um longo período”.
Já para o vendedor da Corcopin, a graxa não é o lubrificante ideal, porque apenas acumula sujeira e não penetra na corrente. André Santos prefere acompanhar as opiniões do gerente da Honda e do instrutor de pilotagem da STR Motos, e aponta o 90 como melhor óleo para a lubrificação da corrente.
É sempre importante olhar e conferir o manual do proprietário, pois lá estão todas as informações necessárias para você manter a sua moto em ótimas condições.
Falando nisso...
Como fazer o ajuste correto da corrente?
1 – posicione a moto, desligada e em ponto morto, em um cavalete;
2 – solte a porca do eixo traseiro sem tirá-la completamente;
3 – gire a porca e obtenha a folga desejada;
4 – para finalizar, aperte o eixo traseiro e, posteriormente, as porcas.
Segundo André Santos, outro item muito importante é o alinhamento da corrente entre o pinhão e a coroa. O desalinhamento ocorre quando ao trocar o pneu traseiro ou regular a folga da corrente, ficam medidas diferentes nos esticadores laterais de corrente. Quando a coroa e o pinhão não se encontram alinhados, ocorrerá uma torção na corrente que, consequentemente, terá um processo de desgaste excessivo na corrente coroa e pinhão.
Fonte: www.motoflashbrasil.com.br