sábado, 21 de maio de 2011

MUITO ALÉM DA ALVORADA


Há um certo estranhamento toda vez que pegamos a estrada. Afinal porque viajamos? Qual a nossa necessidade? O que realmente nos impulsiona?

Nada mais injusto que questionar a um motociclista porque enfrentamos tanto "desconforto"? O próprio conceito de conforto é variável. Conforto transcende simplesmente uma cabine refrigerada, música em sistemas de dvd multimídia e toda a parafernália de segurança passiva e ativa de um automóvel se quisermos comparar friamente os dois meios de transporte mais individuais. Cabe os parênteses que viagens em ônibus coletivo podem ser muito interessantes quando se está em um grupo animado.

Mas voltando a palavra conforto, muitos de nós motociclistas afirmarão categoricamente que o cheiro do asfalto, da poeira, do mato em volta, o calor, o frio, a chuva, mosquitos, besouros e toda a sorte de estímulos que recebemos diretamente no peito (e na fuça para os adeptos do capacete aberto) é incrivelmente confortável.

Mas ao diabo, como? Pegunta o incauto leitor. Bem, isso tem haver com a experiência, o ser humano é um ser que precisa experimentar para desenvolver, para sentir-se vivo. Nosso cérebro se alimenta de estímulos e sensações. Quanto mais, mais o cérebro se desenvolve e isso quem diz são os textos científicos, não este humilde cronista. Portanto a experiência é o conforto.

Assim nada mais confortável que tomar um banho de lama daquele maldito caminhão a frente porque ainda não houve janela para ultrapassá-lo. Nada mais confortável que sentir a neblina gelada até os seus ossos enquanto tenta dissernir o trajeto no meio do branco insólito. Nada mais confortável que dividir os infortúnios, desaventuras e sim as bonanças de cada viajem realizada com os amigos.

No final, usando a propaganda de certo sabão em pó, a vida é para ser vivida e as estradas para serem enfrentadas. Para toda a sujeira e até estrume de vaca que vier a te atingir, basta um bom banho.

Este fim de semana, após longo hiato, fiz uma curta viagem de Mariana a Bhz na sexta a noite e depois retornei no domingo pela manhã. A mesma estrada, a mesma distância, porém o simples fato de ir num sentido e depois ao contrário e o próprio horário (a ida a noite e o retorno logo pela manhã) trouxeram conforto extraordinário e experiências complexas. Não teria vivido tão intensamente a viagem se estivesse em outro meio de transporte mais "confortável". Lembro até de dormir no banco de carro ao estar de passageiro e perder a paisagem. Mas de moto sempre podemos ver o pôr do sol ou a alvorada e muito além.

Mas porque realmente pegamos a estrada? Nenhum motociclista será capaz de explicar com palavras (eu bem que me esforcei aqui), porém venha conosco e veja com seus próprios olhos.



Gustavo Fantini
Clã do Gallo Preto - DACS

Um comentário:

  1. Eu poderia dizer que uma das melhores sensações do mundo é sentir o cheiro do eucalipto adentrar o capacete quando pegava a BR 101 em direção a Paraíba. E de parar na estrada para ajudar estranhos colocar outra moto em cima do reboque. Djavan pode até me entender quando diz que "o viajar já é mais que a viajem".

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